A relação complexa entre educação e saúde

Existe uma corelação entre educação e saúde. As oportunidades de aprendizagem ao longo da vida são fundamentais para uma melhor saúde e igualdade social.
A nossa saúde é muito mais do que sermos fisicamente capazes e estarmos sem doenças.
A Organização Mundial de Saúde define a saúde como um estado de completo bem-estar físico, mental e social e não apenas como a ausência de doença ou enfermidade.
Evidências e pesquisas estatísticas provam que existe uma forte ligação entre educação e saúde: pessoas com melhor educação vivem mais e têm vidas mais saudáveis.
No entanto, dada a amplitude da definição de saúde e a miríade de possibilidades de aprendizagem nas nossas sociedades, ainda não temos uma compreensão completa dessa ligação. Porque é que a educação é boa para a nossa saúde?
Literacia para a Saúde vai ser o tema principal do Encontro da Semana ALV 2019 que irá decorrer no dia 21 de outubro na Fundação Gulbenkian (ver http://www.semanaalv.net/content/semana-aprender-ao-longo-da-vida-2019)
Para alertar para a importância deste tema divulgamos um artigo publicado na ELM Magazine em que são apresentados pontos de vista de dois especialistas em educação: o Dr. Ricardo Sabates da Universidade de Cambridge descreve os benefícios de saúde da educação em geral e ao nível social, e o Professor Jyri Manninen da Universidade da Finlândia Oriental concentra-se nos benefícios da educação não-formal e não-profissional de adultos para a sua saúde.
Quatro caminhos para melhorar a saúde
O Dr. Sabates, Leitor em Educação em Cambridge, diz que a educação pode trazer benefícios para a saúde através de quatro caminhos diferentes.
Um deles é o efeito no rendimento: um nível mais elevado de educação leva a um rendimento melhor, o que pode resultar num acesso alternativo aos serviços de saúde, em particular nos sistemas de saúde virados para o mercado.
Outra forma em que a educação nos afeta é pelo aumento da nossa consciência sobre a importância de uma boa saúde. Isto, por sua vez, pode fazer-nos mudar a maneira como vivemos e, por exemplo, reduzir comportamentos de risco para a saúde, como fumar ou beber muito.
Além disso, o Dr. Sabates afirma que a educação também tem um impacto importante sobre a perceção de nós próprios – como nos sentimos connosco e em relação à nossa competência para afetar as nossas vidas.
“Isto é incrivelmente importante para nós. A educação amplia o nosso amor próprio, a nossa autoestima e confiança. Isso permite-nos sentir que estamos no controlo das nossas próprias decisões e destinos”.
Por fim, o Dr. Sabates refere a capacidade de comunicar e de reivindicar os seus direitos. Pessoas com mais educação são capazes de saber como lidar com a complexidade dos sistemas de saúde. Para essas pessoas também é mais fácil comunicar com os profissionais de saúde sobre um tópico especial.
"E também são mais propensas a reivindicar os seus direitos: para dizer, realmente sinto muito, mas não acho que isso é o correto, eu ainda não me sinto bem. A educação reduz a distância social entre o paciente e o profissional de saúde experiente”.
O bem-estar mental leva à saúde física
O Professor Jyri Manninen, Diretor do Programa de Aprendizagem ao Longo da Vida e Educação de Adultos da Universidade da Finlândia Oriental, estudou os benefícios da educação não formal e não profissional de adultos, a que ele se refere como educação liberal de adultos para enfatizar a sua natureza voluntária.
O estudo Benefícios da Aprendizagem ao Longo da Vida

parcialmente liderado pelo Prof. Manninen, descobriu que o impacto mais visível na saúde de se participar na educação liberal de adultos é o aumento do bem-estar mental. (Leia mais sobre este assunto, em inglês, aqui: https://www.elmmagazine.eu/articles/adult-education-increases-mental-well-being/)
“A aprendizagem de adultos tem um efeito positivo direto no bem-estar mental. No entanto, quando as pessoas se sentem melhor mentalmente, elas também começam a prestar mais atenção à sua saúde, e isso pode levar a uma melhor saúde física”, diz o Prof. Manninen.
Tal como o Dr. Sabates, ele também realça a importância da influência psicossocial da educação. Segundo ele, as experiências de aprendizagem num ambiente social proporcionam interação social e pequenas experiências de realização. Estas constroem capital social, autoeficácia e um senso de controlo da sua própria vida, o que, por sua vez, promove o bem-estar na vida diária e, assim, aumenta o bem-estar mental.
Os centros de educação de adultos, escolas secundárias populares (folk schools) e outras organizações educacionais não formais também oferecem muitos cursos, que têm um impacto direto na saúde física, tais como dança, pilates ou exercícios na água para os idosos.
O Prof. Manninen está atualmente a conduzir um estudo de acompanhamento, que avalia os benefícios no bem-estar da aprendizagem num centro de educação de adultos, onde cerca de metade dos cursos disponíveis são de exercício físico.
“Surpreendentemente, estamos a obter, na saúde auto referida, resultados semelhantes e positivos independentemente de se tratar de uma aula de exercício físico ou de um curso de língua estrangeira. Parece que apenas sair de casa e participar numa atividade social já é bom para si”, diz ele.
Construir uma sociedade mais saudável e mais igualitária
Os provedores de educação de adultos não-formal e não profissional são uma parte importante do sistema educacional em muitos países, porque oferecem oportunidades para a aprendizagem ao longo da vida, independentemente do nível de educação dos alunos.
Um aspeto único dos vários cursos é que são ocasiões sem stress com fácil acesso e sem um sistema de classificação rigorosa. Prof Manninen afirma que isso é extremamente importante:
“Quando as pessoas se voluntariam para aprender sobre um assunto em que têm um interesse natural, é mais provável que estejam motivadas e apreciem a experiência de aprendizagem”.
O Dr. Sabates vê a educação não formal de adultos como uma forma de abordar as questões sociais. Segundo ele, os benefícios para a saúde da educação não são importantes apenas porque podem levar a uma melhor saúde individual, mas também porque as desigualdades na saúde e nos rendimentos estão a aumentar nos países.
“Quando as pessoas sentem que não vivem numa sociedade justa, isso gera raiva e insatisfação social, o que pode levar à falta de coesão social e a mais crimes”.
O Dr. Sabates explica que é aqui que a educação e a aprendizagem ao longo da vida têm um papel importante a desempenhar: na equalização das nossas sociedades, proporcionando oportunidades de segunda oportunidade e reduzindo o fosso entre os que têm e os que não têm”.
Quem nasceu primeiro, a galinha ou o ovo?
Sabemos que existe uma correlação clara entre educação e saúde. Pessoas com melhor educação – e, de acordo com a pesquisa do Prof. Manninen, também pessoas que participam na educação não-formal e não-profissional de adultos – são mais saudáveis do que a média.
Mas será que é a educação que induz a uma melhor saúde ou será que são as pessoas mais saudáveis que têm maior probabilidade de se educar?
A questão é difícil de responder devido a uma causalidade reversa: a educação e a saúde têm um efeito uma sobre a outra.
Por exemplo, explica o Dr. Sabates, a boa saúde na infância leva a uma melhor aprendizagem na escola, o que resulta numa melhor educação e saúde durante a vida adulta. E ainda, a saúde durante a infância é afetada pela educação dos pais.
“Em teoria, é fácil dizer que a educação afeta a nossa saúde. O problema é como provar isso, como obter a evidência empírica de como isso funciona, a fim de influenciar os formuladores de políticas”.
O Dr. Sabates está esperançado de que a questão possa ser respondida no futuro.
“Temos bons conjuntos de dados longitudinais em educação e saúde, especialmente na Europa. Ao estudá-los, podemos ver como os ciclos de feedback da educação estão a funcionar”.
Artigo de Tuomas MacGilleon Photo Pixabay
Em: https://www.elmmagazine.eu/articles/the-complex-connection-between-education-and-health/
Ver mais em: https://www.elmmagazine.eu/articles/theme-issue/adult-education-and-health/